365 de 021

marina pedrosa
4 min readDec 16, 2024

--

Crédito: Yugo Mabe

Passou rápido, atropelando e contagiando tudo pela frente, tal qual um bloco de Carnaval, mas já faz 365 dias que eu oficialmente chamo o Rio de Janeiro de 'casa'.

Como aquelas histórias doidas de amor, onde a protagonista revira a vida inteira de ponta-cabeça em questões de semanas, atrás de algo que todos dizem ser loucura e impulsividade. Uma mistura de intuição, alinhamento e desejo por aventura — com todos os elementos que comprovam que foi mesmo amor à primeira vista, ou à primeira realização de que esta cidade fazia muito mais sentido.

A verdade é: não fui eu que encontrei o Rio de Janeiro. Quanto mais o tempo passa, mais percebo que foi o Rio que me encontrou — na hora certa, no momento certo — e permitiu que eu mudasse tudo para me encontrar na sequência.

Em 365 dias, o Rio de Janeiro me amou, ensinou, me dobrou e desdobrou, me chutou, acolheu, transformou e me marcou. Me marcou na pele, no coração, na mente e na alma. Senti como nunca antes, vibrei em novas frequências, vi o meu bronzeado nunca ir embora, bebi do suco carioca e vivi de tudo possível — mais intensamente do que o normal — em 365 dias que passaram com a sensação de 3 anos, 6 segundos e 50 graus.

No meio do calor escaldante do verão, da brisa carioca do outono, e da água gelada do inverno, o Rio de Janeiro me ensinou a respirar de novo.

Não aquele respiro forçado entre meditações que me obrigam a tentar relaxar, ou o respiro de alívio (mesclado com desespero) depois de um longo dia de trabalho — o Rio de Janeiro me ensinou um respirar diferente; mais devagar, mais profundo e com mais vontade de viver.

Os últimos 365 dias foram mais coloridos do que nunca, e mesmo nos dias em que as cores não estavam tão vibrantes dentro de mim, existia sempre uma Aquarela à disposição do lado de fora da minha janela.

Em meio à tantas crises da vida adulta, dos ajustes de se ter 30 anos, do stress do trabalho, das complicações de ser independente, e os desafios de se recomeçar em uma nova cidade — o céu azul e a natureza do Rio nunca falharam em relembrar que a vida floresce e acontece na simplicidade, no descomplicar e no movimento das pequenas coisas. O sol e o mar têm mesmo poder de cura.

Ouvi de muitos amigos durante os meses: "Você está radiante desde que se mudou pro Rio. É visível na sua energia!" Recentemente, ouvi de uma amiga próxima que acompanha a jornada há décadas: "Você está trilhando um caminho que faz sentido pra quem você é. Foi foda ver de perto você bancando todas as suas decisões."

O Rio de Janeiro com certeza me ensinou a bancar — não só as minhas decisões, mas a minha personalidade, a minha visão, história, o jeito que eu falo, as roupas que eu uso, tudo que eu acredito, defendo e amo com unhas e dentes. Não que os leoninos precisem de qualquer aula sobre autenticidade, mas o Rio me relembrou que é preciso ser único, ter o seu tempero e pensar por outra ótica. Sempre.

Na essência e na cultura da cidade, mora a necessidade de bater no peito e não só bancar, mas amar quem somos, exatamente do jeito que escolhemos ser. Mesmo quando tudo for e estiver um caos — por dentro ou por fora.

Claro que nem tudo são flores, praia e céu azul — e o Rio de Janeiro, como qualquer lugar do mundo, está longe de ser perfeito. Vive-se entre contrastes e dualidades, com infames lembretes diários de que no Brasil, o buraco é muito mais embaixo. Para se sentir mesmo em casa, é preciso entender o seu lugar em meio à privilégios, zonas e hipocrisias. 365 dias se passaram, continuo absorvendo e me perguntando: como ser uma das pecinhas, neste quebra-cabeça carioca, que mudam um pouco do caminho até a minha casa?

Depois de 365 respiros, o verão chegou na Cidade Maravilhosa de novo, marcando o meu primeiro ano de Rio de Janeiro, que começou em um mesmo dia de sol e calor, cheio de sonhos de verão.

O bafo quente e as chuvas temperamentais dos trópicos cariocas já inundam a cidade de novo — com uma efervescência e vontade de estar na rua que realmente só o Rio de Janeiro e seus cidadãos tem. Já dá pra ouvir algum bloco de Carnaval ensaiando no Aterro do Flamengo, as palmas quando o sol se pôr no Arpoador, e o burburinho na rua de novas histórias de verão acontecendo em tempo real.

Dentro de mim, tudo já mudou 365 vezes. As águas internas já inundaram tudo, esfriaram, congelaram, esquentaram, entraram em ebulição e depois de um ano inteiro nas ondas do Rio de Janeiro, finalmente seguem à favor da maré.

A âncora deve continuar fincada neste porto seguro por mais muitos anos, se tudo der certo! Sempre agradecendo ao Rio de Janeiro por ter me encontrado, e enfim dado uma marina para esta Marina chamar de casa.

Sign up to discover human stories that deepen your understanding of the world.

Free

Distraction-free reading. No ads.

Organize your knowledge with lists and highlights.

Tell your story. Find your audience.

Membership

Read member-only stories

Support writers you read most

Earn money for your writing

Listen to audio narrations

Read offline with the Medium app

--

--

marina pedrosa
marina pedrosa

Written by marina pedrosa

creative thinker & certified shapeshifter

No responses yet

Write a response