Agosto Sempre Me Transforma

Talvez eu só seja leonina demais, mas uma coisa é certa: Agosto sempre chega, me revira, me desdobra, me renova, me desperta e me transforma.
Pode ser alguma coisa na água, no sol, no ar, ou algo que acontece completamente e exclusivamente dentro de mim, todo santo ano, mas algo sempre desabrocha em Agosto — das sementes, às raízes e todas as coisas que sinto à flor da pele. Sem falhar, Agosto vem e me relembra minuciosamente de quem eu realmente sou, da onde eu vim, pra onde vou, e todas as possibilidades do que eu posso me tornar pelo caminho.
Agosto é sobre mergulhar em águas profundas — e quantas imersões intensas acontecem quando o Sol entra em Leão! A temporada leonina me dá vontade de ver, viver e reviver.
Agosto vem sempre como pimenta — ardendo, pinicando, esquentando e remexendo tudo dentro de mim — com um ímpeto e um desejo maluco de arrastar tudo de um lado pro outro, internamente e externamente, e criar espaço apenas para o que deve permanecer. Agosto é um lembrete constante que o presente é sobre instinto e o futuro é sobre intuição.
Chegam os novos ciclos, abrem-se as novas portas, e Agosto me obriga a abandonar o que eu insistia em tentar encaixar, de qualquer jeito, em uma frestinha da janela. Como se olhasse pra mim e falasse: “Com isso tudo aqui entulhado, como é que vai ter espaço para o novo? Se você sempre achar um jeito de deixar o passado tampar a janela, por onde vai entrar o sol?”
Os dias se revezam, alguns mais leves que outros, outros mais ensolarados que uns — e em meio à escuridão e leveza, Agosto escancara: quem dita o peso de tudo que eu carrego, sou sempre eu mesma.
E assim o sol invade a minha sala e cada canto da minha vida em Agosto, e nos meus novos ciclos, os meus sonhos são feitos de uma luz âmbar e dourada, e tudo aquilo que já sei que sou capaz de conquistar.
Treze dias depois do meu aniversário, recebi uma ligação do meu avô, pai da minha mãe e o único que ainda tenho vivo. Atendi com ele dizendo que tentou falar comigo no meu dia, enquanto eu estava na Bahia, mas não conseguiu, e que estava surpreso que eu ainda tinha um número 011. "Achei que você já tinha virado carioca de vez!" ele completou rindo.
Antes de me desejar votos atrasados de aniversário, meu avô discorreu no telefone por uns 10 minutos sobre o quão impressionado ele estava com a minha habilidade de viajar para cantos inusitados e praias isoladas do mundo. "Eu fui para Cumuruxatiba quando sua mãe não era nem nascida! Não tinha nem luz lá!"
Conversamos mais sobre as belezas da Bahia, sobre o privilégio que é viajar, as nuances da vida de adulto, e compartilhei que morar na praia fazia bem para a minha alma — algo que ele não só prontamente concordou, como acrescentou: “Somos pessoas marítimas e solares. Mas vê se cuida da sua pele!”
Em um tom de orgulho, me consagrou sua "oficial herdeira de desbravamentos de praias," dizendo que ficava contente em ter uma neta que gostava tanto de viajar e explorar o litoral, como ele fazia na juventude. Disse que eu estava certa em desfrutar da minha vida enquanto tenho energia e sou jovem, e se lamentou por não ter conseguido visitar certos lugares enquanto podia e conseguia.
"Tem que saber viver e aproveitar a vida mesmo. E isso você faz muito bem, Marina." Parei no meio da minha sala com o celular esquentando a orelha, sentindo meus olhos encherem de água. Ahhh, Agosto!
Nos despedimos e quando desligamos, em silêncio me perdoei por não ter atendido quando estava viajando — agradecendo ao universo pelo momento de troca, o lembrete que é o doce presente da juventude, e pelo jeito sagaz e sensível em que as coisas sempre acabam acontecendo.
No dia 19 do mês, 17 dias depois do meu aniversário, a lua ficou cheia e entrou em Aquário. Aleatoriamente, percebi que esse Agosto também havia me presenteado com o meu alinhamento natal: tanto o Sol quanto a Lua, dois planetas que regem tanto da nossa vida, estavam exatamente nos mesmos signos de quando eu nasci.
Neste momento e há 31 anos atrás: o Sol estava em Leão, e a Lua em Aquário, na força dos opostos complementares — algo que na astrologia é visto como uma energia de magnetismo, com base em dualidade e contraste, características que se repelem e se atraem, mas que se complementam perfeitamente nas suas diferenças.
No dia da lua cheia – vi a lua nascer gigante, laranja, brilhando como nunca vi antes, sozinha da janela do meu antigo quarto. Como estava na casa dos meus pais, fui até a varanda para fazer um vídeo e fiquei surpresa quando percebi que da sala, não dava para ver a lua. Só dava para ver da janela de onde um dia foi meu quarto.
Na mesma noite viajei de volta para o Rio, e quando cheguei no meu apartamento de madrugada, a lua cheia em Aquário estava lá de novo – agora na varanda da minha atual casa, ainda gigante, brilhando perfeitamente alinhada atrás do Cristo Redentor. Com um sabor gostoso de nostalgia e uma pitada de respeito pelo futuro, respirei fundo e agradeci Agosto por me inspirar e me ensinar infinitamente, ano após ano.
Agosto pode até trazer novos e velhos alinhamentos, mergulhos, lembretes, amores, praias, luas cheias — mas no meio da minha própria escuridão, meu mês sempre me relembra: o sol já mora dentro de você.
Os anos podem até passar, ainda bem que passam, mas o mesmo questionamento de Agosto sempre fica: o que realmente me faz irradiar?