Sempre em Tempo

marina pedrosa
3 min readDec 13, 2023

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Crédito: Ayla Meridian

Como explicar o poder dos movimentos que acontecem lentamente acelerados? Aqueles que são frutos de sementes plantadas no fundo da nossa mente — talvez em um terreno de anos ou décadas atrás — que vão aos poucos florescendo nas incertezas da vida e na espera entre o presente e o futuro.

Em meio de cultivos, movimentos, plantios, pragas e colheitas — quanto tempo demora para uma semente virar fruto?

Fazia tempo que minha mente não cultivava e via desabrochar tantas flores do meu próprio jardim. Como se nos últimos anos eu tivesse me dedicado arduamente em nutrir o solo, preparar a terra, espalhar o cascalho, estudar e compreender os períodos de chuva e seca — para só depois de muito cultivo, começar a me nutrir do que prosperou na sua própria evolução.

A grande verdade é que nem tudo que plantamos vira fruto, mas tudo é semente e uma chance de recomeçar. Não que eu entenda muito sobre jardinagem, mas assim como a vida, tenho entendido que preparar o terreno é o grande segredo para uma colheita frutífera. As sementes podem até ser da melhor qualidade… mas do que adiantam em um solo infértil?

Afinal, o caminho até a colheita é longo, com épocas de crescimento, períodos extremos e fases ingratas — é necessário ter paciência, foco e persistência, e principalmente, aprender com os erros de cultivos passados e a força da Natureza. Nem sempre colhemos o que plantamos — e muitas vezes até plantamos, regamos, mas são os outros que colhem os frutos.

Quando penso em tempos de plantio e colheita, volto na mesma pergunta que me ronda com frequência e me obrigou a sentar com os meus pensamentos: Como explicar o poder dos movimentos que acontecem lentamente acelerados? Como falar sobre todas as coisas que germinam e se transformam no devagar depressa, no invisível do dia-a-dia — mas de repente, quando nos damos conta, já alteraram completamente a direção e sentido das nossas vidas?

O que proporciona um impulso com intenção — tempo ou movimento?

Se movimentar deixa marcas — reverbera na pele, no coração, na mente, nas relações, na rotina, e em todos os ambientes que frequentamos ou deixamos de frequentar. Movimentos gradualmente trazem mudança, ampliação e com sorte e bom planejamento, colheita.

Tempos e movimentos são catalisadores — das maiores transformações, de grandes descobertas, de períodos de total expansão — mas principalmente de tudo que acontece internamente, dentro de nós ou debaixo da terra.

Ainda bem que o tempo existe, se cura, se reinventa, se movimenta — em toda a sua sabedoria e sua essência — e nos obriga a olhar com calma o que temos mania de querer entender depressa.

Em algum jardim entre a arte das esperas, o alinhamento dos tempos, entre os períodos de plantio e de colheita, cada vez tenho mais certeza: nossos lentos, infinitos movimentos se cultivam, se complementam na sua própria velocidade e fazem todas as sementes florescerem — sempre em tempo.

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